Conflito de Visões - Thomas Sowell
No livro Conflito de
Visões, Sowell desenvolve uma análise das opiniões correntes nos mais diversos
temas, que vão desde economia e guerras, até aborto e movimentos pelos direitos
de minorias. Para o autor, conhecidos pontos de vista a respeito dessas temáticas
tomam por premissa algo maior, mais abrangente, e dividem-se em duas distintas
visões de mundo que, numa análise mais profunda, revelam-se em visões da
própria natureza humana. Trata-se das visões restrita e irrestrita.
Os que acreditam na visão
irrestrita observam que a natureza humana é modificável, e portanto é possível
desenvolvê-la em seus aspectos morais, psíquicos e psicológicos. Noutro extremo,
a visão restrita vê o ser humano como um alguém envolto de limitações. Sua
natureza não muda assim tão fácil, e é dentro desses limites - um poço de
medos, angústias e aflições - que se deve aprender a viver. Se para estas
visões a vida fosse uma peça de teatro, ainda que ambas aceitem a evolução do cenário
e do vestuário das personagens ao longo do tempo, a visão irrestrita
acreditaria também na mudança do enredo; a restrita, ao contrário, veria esta
mudança como utópica.
Sowell pontua que a diferença entre essas
visões não é necessariamente a premissa de valor. Por exemplo, ambas as visões reprovam
a desigualdade social. O diferencial se dá na forma de pensar e solucionar o
problema. Enquanto a visão restrita olha para processos que redundem no
resultado, a visão irrestrita vislumbra diretamente o resultado. A metáfora de
uma corrida ajuda a compreender. Dá-se a igualdade social, na visão irrestrita,
quando, encerrada a corrida, todos os competidores cruzam a linha de chegada ao
mesmo tempo. Para a visão restrita, este raciocínio, além de partir da
equivocada premissa da igualdade nata, acaba por desvirtuar todo o sistema, criando
desigualdades ainda mais graves. Para esta visão, a verdadeira igualdade
corresponde a igualdade das regras do jogo, sendo inconcebível que terceiros
interfiram nas colocações finais.
O ser humano da visão
restrita é um egoísta, um egocêntrico. Para autores desta linha, até o
sacrifício de interesses próprios por alheios dá-se por meio de compensações e
trocas (ou seja, processos). A sutileza desta diferença se mostra no tema do
crime. Enquanto o sujeito da visão irrestrita não comente crimes porque é
“bonzinho”, o sujeito da visão restrita não comete crimes pois sabe que irá parar
atrás das grades, e o crime, no fim das contas, não compensará. Daí a expressão
“ressocializar presos” ser típica de uma
visão irrestrita de natureza humana. Para esta, o sujeito nasceu “bom”, foi “desvirtuado
pelo sistema”, e agora o mesmo sistema precisa reintegrá-lo.
Ora, se o ser humano é
assim limitado e egoísta, aponta Sowell, crimes e guerras não deveriam ser
investigados como uma decisão tola e irracional de uns poucos poderosos, uma
vez que violência estaria na nossa identidade genética, produto de milênios de
seleção natural. Por isso a visão restrita trabalha com a compensações, isto é,
joga-se com o próprio egoísmo do homem. Trabalha-se com suas limitações. Ambas
as visões querem evitar a guerra. De novo, a premissa não é o diferencial. Porém,
enquanto a visão irrestrita inutilmente roga pela paz, a visão restrita investe
em dissuasão. Ou você quer o Estado tentando reintegrar extremistas do ISIS? De
repente, conversando, a Coreia do Norte para de testar mísseis nucleares.
A relação processos versus resultados fica mais evidente ao
lembrarmos nossos anos recentes de governo petista. Seguindo uma visão
grosseiramente irrestrita, fomos submetidos a um projeto que, custasse o que
custasse, tencionava manter-se no poder. E não é preciso lembrar o que herdamos
de 16 anos em busca deste resultado. Desnecessário também elencar os danos
amealhados na história da humanidade por projetos semelhantes. Centenas de
milhares de mortes, de Mao a Hitler, falam por si.
O limitado ser humano da
visão restrita não tem capacidade para atingir resultados advindos de
engenharias sociais traçadas pela pena de uns poucos intelectuais. Prefere
processos. Esta a razão por que valoriza instituições tradicionais como livre
mercado, família e propriedade. Os benefícios sociais advindos destas instituições
são sistêmicos, ou seja, resultam dos processos. Reconhecer o ser humano como
limitado, um poço de dúvidas e angústias, e aprender a viver com nossas ferramentas.
Eis a beleza da vida.
Sensacional resenha!
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